História sem sentido



O encontro

Chegou ao pé de mim afogueado. A gravata tinha desaparecido, assim como uma das mangas do casaco. Os sapatos estavam cobertos de lama, como se tivesse corrido pela margem lodosa de um rio. Mas era Verão e estávamos no meio da cidade.

Parou a tentar recuperar o fôlego. Aguardei pacientemente sem me mexer. Após alguns minutos começou a tossir. Pensei que o tabaco ia acabar com ele mais cedo ou mais tarde mas não disse nada, continuei à espera.

Finalmente recompôs-se, levantou os olhos cinzentos e olhou-me fixamente, depois sorriu, com aquele sorrisinho cínico que ele sabia que eu odiava e disse, com uma clareza surpreendente:

-Disparate!

Naquela altura eu já não tinha nada a perder. Fixei o olhar dele, sorri também, respirei fundo... e disse.

[Luís R.]

Mensagens populares deste blogue

Poema Pícaro

Infância 2